A poucos dias do apito inicial para a Copa 2014, temos, de um lado, críticas ferozes à competência brasileira para realizá-la. De outro, a crença num legado que justificaria todo esforço público. Mas cabe reflexão adicional: o que a Copa – e o futebol – podem fazer pela inclusão de pessoas em vulnerabilidade social?
Sem respostas prontas, acreditamos que o futebol é sim potente para isso. Num ambiente de Copa, isso acontece não apenas através das intervenções de melhoria na infraestrutura urbana – por sinal, nem sempre uma unanimidade. Tais eventos empoderam pessoas na medida em que abrem oportunidades para capacitações individuais; ampliam horizontes através do intercâmbio de experiências e olhares; e, no caso específico do Brasil, atos violentos à parte, dão voz e vez, fortalecendo o tecido social através do posicionamento cidadão perante as estratégias governamentais. Sim, a Copa do Mundo já parece ter mudado o Brasil.
Mas há outra perspectiva sobre o poder do futebol para a inclusão: é quando integra indivíduos que torcem por bandeiras distintas; deixa revelar suas mazelas e nos faz refletir sobre a nação que somos; é quando seus reis “ficam nus”, vítimas de suas próprias manipulações. É a paixão nacional a serviço de nossas mais profundas reflexões sobre
ética e comportamento.
A bola rola em um campo de várzea. Meninos e meninas suam a camisa e sujam os pés para chegar até o gol que pode resignificar sua presença na comunidade. Pra chegar lá, não basta só a habilidade nos pés mas conhecimento e interpretação de regras, estratégia, além de disciplina, espírito de equipe e tolerância à frustração. Outra vez, é o futebol instrumentalizando pessoas para uma vida em sociedade.
Com esta perspectiva ampla, estruturamos o Futebol Minas Pela Paz em parceria com a Associação Mineira de Desenvolvimento Humano. O projeto se propõe a trabalhar nos campos de várzea de Belo Horizonte. Uma simples troca de passes será oportunidade para reconhecer-se como parte de um sistema interconectado. A chegada ao gol abrirá a perspectiva para se ver como realizador de mudanças. E, assim, queremos ver brotar um novo cidadão, engajado,
incluído e, sobretudo, feliz.
Trata-se de um projeto no contra-turno escolar. Crianças e adolescentes receberão aulas de reforço em Português e Matemática, além de palestras, oficinas e atividades de Formação Cidadã. No pilar esportivo, a aplicação da metodologia Escola da Bola significará também fortalecer valores éticos e morais, de formação da personalidade, da capacidade de superação.
Projetos sociais ligados ao futebol só fazem sentido se acoplados a uma formação educacional e de cidadania que ofereça a estas crianças e jovens uma compreensão do seu papel na sociedade. Formar os melhores atletas de futebol do mundo é pouco para nós que vivemos os contrastes de uma sociedade tão desigual. Precisamos formar os melhores cidadãos do mundo para, aí sim, colocar o Brasil em uma posição de destaque no cenário mundial.
Gestora de Desenvolvimento Social do Minas Pela Paz