O dia 8 de março de 1917, na Rússia, ficou marcado pelo protesto conhecido como “Pão e Paz”, que levou às ruas milhares de pessoas – muitas delas mulheres – reivindicando melhores condições de trabalho, dizendo não à fome e à guerra; a mobilização foi um marco na mudança dos rumos políticos e sociais do país naquele momento.
Além dessa, inúmeras outras manifestações populares ao longo dos anos deram voz à busca das mulheres pela igualdade de direitos. A data, formalizada pela Organização das Nações Unidas em 1977, reconhece a busca secular das mulheres por equidade, pelo fim da opressão social e familiar e pelo combate à violência.
Na próxima semana, o dia 8 de março nos traz a oportunidade de refletir sobre o posicionamento das mulheres na sociedade, suas conquistas e enormes desafios que ainda enfrentam. O Minas Pela Paz, em sua missão de promover a inclusão social de pessoas socialmente vulneráveis, foca seu olhar a um grupo muito peculiar de mulheres no Brasil: as mulheres presas.
O relatório Infopen Mulheres, disponibilizado pelo Ministério da Justiça com o retrato da população carcerária feminina, traz a alarmante informação de que o encarceramento de mulheres no país aumentou 567% entre os anos 2000 e 2014. São cerca de 40 mil presas, colocando o Brasil como o quinto do mundo em número de mulheres condenadas presas. Segundo o relatório, em torno de 58% dessas mulheres possuem vinculação penal por envolvimento com o tráfico de drogas. A maioria ocupa uma posição coadjuvante nesse tipo de crime, realizando serviços guarda, transporte e pequeno comércio; muitas são usuárias de drogas, sendo poucas as que exercem atividades de gerência do tráfico.
Em Belo Horizonte, a situação não é diferente. Sônia, de 50 anos, é uma senhora tranquila e pacata. Foi criada por sua tia, porque sua mãe não a quis. Mãe de cinco filhos, confessa envolvimento com o tráfico: guardava drogas em casa para ganhar dinheiro e sustentar sua família. Seu nome é fictício, mas sua trajetória não.
Sônia foi condenada e hoje cumpre pena no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto. Ela é uma das participantes do projeto Novos Horizontes, Novas Oportunidades, aprovado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais e realizado pelo Minas Pela Paz em parceria com a AVSI Brasil e o CEDUC Virgílio Resi, além do apoio do Programa de Inclusão Social do Egresso do Sistema Prisional (PrEsp). O projeto tem como foco a preparação para o mercado de trabalho e a geração de renda pelo empreendedorismo. Além das atividades de formação técnica, se diferencia por resgatar a autoestima dessas mulheres, ajudando-as a desenvolver habilidades profissionais e pessoais.
Sônia, antes de ser presa, tinha passado por experiências profissionais como serviços gerais, gari, lavadeira e costureira, mas, o que gosta mesmo, é de fazer artesanato. A partir do conhecimento adquirido no projeto, especialmente nas atividades de qualificação em empreendedorismo, já planeja abrir uma pequena loja para vender seus bordados. Hoje, cumprindo pena no regime semiaberto, sai de dia para trabalhar e começar a ter renda para viabilizar o seu próprio negócio.
Assim como a Sônia, outras 59 mulheres presas no Complexo Penitenciário Estevão Pinto terão o dia 8 de março de 2016 como um momento muito significativo. Estarão comemorando o encerramento do curso e podendo sonhar com novas perspectivas para suas vidas. Quase cem anos depois do protesto na Rússia, a batalha continua. Em outro contexto, em outro momento, de outra forma, mas repleto de esperança na busca de pão, paz e felicidade.
Homenagem da equipe do Minas pela Paz a todas as mulheres.