Desde o início dos anos 2000 a chamada geração “nem, nem, nem” tem se destacado nas estatísticas de população e economia brasileiras. Estão nesse grupo os jovens entre 15 e 29 anos que nem estudam, nem trabalham e nem estão procurando emprego. De acordo com dados de 2015 apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, um contingente de 6,8 milhões de jovens estavam nesta situação, o que significa cerca de 14% do total da população brasileira nessa faixa etária.
As causas para essa situação são muitas, desde a baixa escolaridade, evasão escolar, gravidez precoce, baixa renda familiar, dentre tantas outras. O fato é que um em cada seis jovens de 15 a 29 anos está fora dos dois maiores mecanismos de formação e produção da vida sociocultural urbana: a escola e o trabalho. Ao mesmo tempo, esse grupo tem um papel relevante no consumo de bens e serviços, o que, muitas vezes, sobrecarrega as despesas familiares e prolonga a dependência dos filhos em relação aos pais.
O Minas pela Paz – instituição que atua em prol da inclusão social, e seus parceiros realizam o Projeto Trampolim, que objetiva inserir jovens com trajetória no cumprimento de medidas socioeducativas no mercado de trabalho formal. Esse projeto tem evidenciado relevantes aspectos: alguns jovens com idade entre 16 e 18 anos, moradores de periferia, filhos de famílias pobres, têm se relacionado com o mundo do trabalho de forma bastante específica. A experiência deles e dos seus pais com o trabalho são, na maioria dos casos, as mais negativas possíveis. A história familiar desses jovens com relação ao mercado de trabalho é da informalidade, da precariedade e da inexistência de proteção da legislação. Percebe-se, portanto, que para esses jovens o mercado não entrega o que promete e consequentemente não os atrai. Como podemos construir alternativas para essa realidade?
A partir do Trampolim, estes jovens são encaminhados às entidades profissionalizantes parceiras onde participam de dinâmicas e atividades que despertam a importância do autoconhecimento, levando-os a reconhecer suas habilidades e competências e os pontos em que precisam melhorar. Em seguida, inicia-se a construção individual do projeto de vida no qual a educação e o trabalho fazem parte. Já é possível colher resultados. Atualmente, mais de 150 jovens já foram inseridos no mercado de trabalho e estão concretizando seus sonhos num processo de constante transformação.
Promover o trabalho protegido é oportunizar acesso e condições para a expressão da vida social desses jovens. Portanto, é preciso fomentar o trabalho e os seus significados para esses sujeitos e para a sociedade. O desafio é conseguir um lugar no mundo do trabalho que seja positivamente reconhecido, e, neste sentido, a parceria do Minas Pela Paz com o poder público e entidades profissionalizantes, em Belo Horizonte, tem permitido aos jovens construir a sua história.
Ronalte Vicente, coordenador de projetos do Minas Pela Paz