“Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer; Se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer, meus companheiros também vão voltar e a Deus do céu vamos agradecer”.
Ao cantar a “Suíte do Pescador”, de Dorival Caymmi, cada membro do coral Madrigal Liberatus se sente livre. O encontro com a música traz a chance do encontro com si mesmo, fortalecendo a esperança e a crença em dias melhores.
Isso porque o coral é formado por recuperandos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Nova Lima, instituição prisional que adota a metodologia baseada no respeito e na valorização humana e que aposta no estudo, trabalho, espiritualidade e convivência familiar e social para a efetiva recuperação do cidadão.
A partir do ano de 2013, a arte terapia passou a ser mais uma importante aliada na trajetória de transformação de muitos recuperandos da APAC. Conduzido pelo músico e maestro Leandro Dantas, o Madrigal Liberatus vai muito além da reunião de vozes para entoar músicas consagradas. Fazer parte desse grupo significa ter a oportunidade de aprender, dedicar, conquistar, revelar talento onde, muitas vezes, só se via sofrimento e dor.
Uma dessas conquistas é a recente gravação de um CD, como forma de multiplicar a emoção que a arte proporciona a todos nós. A escolha do repertório passa por canções que dão voz aos sentimentos daqueles homens, como uma tradução sensível do que gostariam de dizer à sociedade. Pelas letras da “Oração de São Francisco”, “What a Wonderful World” e tantas outras, demonstram a vontade de fazer parte um mundo digno, mais igual e mais justo.
Um cuidado muito especial foi dado ao título deste CD: “Acorde”. Além de remeter diretamente aos acordes musicais, nos convida para um novo olhar perante a vida, que recomeça a cada dia e que pode ser vivida de uma nova forma. Aos nossos olhos, e em tudo isso, precisamos enxergar um componente precioso: o perdão.
E é isso que o Minas Pela Paz realiza: fortalece e dissemina a metodologia APAC ao gerar oportunidades de formação e capacitação, enfrenta o preconceito e maximiza a inclusão, aproxima pessoas e instituições em prol da cultura de paz. Como disse Caymmi, queremos trazer um peixe bom!
Maurilio Pedrosa, gestor do Minas Pela Paz